“A Bela que Dorme” (La Bella Addormentata, Itália, 2012)
A jovem italiana Eluana Englaro foi acidentada e passou 17 anos em coma.
Lutou-se pela eutanásia, ou seja, o direito de seus familiares liberarem o desligamento
dos aparelhos que a mantinham viva. Uma luta que o cinema já focalizou a
exemplo do excelente “Mar Adentro” (2004) de Alejandro Amenábar. Mas o diretor
Marco Bellocchio (“De Punhos Cerrados, 1965”) foi demais abrangente no seu “A
Bela que Dorme” (La Bella Addormentata, Itália, 2012) ora em cartaz por aqui. Utilizou-se
do documental e da ficção. Focalizou não só o caso de Eluana como também 3
outros, detendo-se no da jovem que a mãe, uma artista muito religiosa estava à
espera de um final feliz para sua filha comatosa (contra um dos filhos que
desejava “libertar a irmã”), o de um senador liberal obrigado pelo partido a
votar contra a morte assistida (embora em seu
passado escondesse um ato de eutanásia da esposa que
pedia, no leito de hospital para morrer), e o de uma jovem usuária de drogas
que tenta suicidar-se sendo impedida pelo médico avesso à eutanásia. Ao tentar,
na segunda vez esse gesto a jovem suicida retém o impulso preferindo uma
segunda chance.
O caso de uma pessoa com morte cerebral foi abordado pelo parlamento
italiano com a veemente condenação à situação da eutanásia a pacientes
terminais (o filme apresenta uma sequencia de documentário televisivo em que se
observa a opinião do então Ministro Silvio Berlusconi). Um mural sobre um tema
sempre instigante (eutanasia e morte assistida) poderia funcionar desde que se
dirigisse a um estudo das próprias contradições em torno. Por exemplo: o
senador que é a favor da eutanasia, mas tem que votar contra, numa imposição
partidária, contrapondo-se à opinião de sua filha, católica fervorosa, que por
sua vez se relaciona a um colega combatente pelo direito do doente em optar
pela morte. O que se vê no filme é uma amostragem de casos sem que o roteiro
(do diretor e mais Verônica Raimo e Stefano Rulli) adentre pelo problema
focalizado seja dos pontos de vista social ou religioso desses dois tipos de
morte. Pende entre as opiniões dos favoráveis e dos contrários à morte dos
doentes terminais, o que não quer dizer muito (ou nada) sobre o motivo da tomada
de posição diante do assunto e de como a ciência e a espiritualidade veem o/s
caso/s.
Do “Caso Eluana” restam cenas de velas e flores colocadas pelos
populares no muro do hospital onde a jovem está internada (e morre ao serem os
aparelhos desligados). É um contraponto para discutir a eutanásia noutros
parâmetros, opção não explorada a contento por Bellochhio. Haveria um enfoque
mais profundo sobre os jovens céticos e os religiosos como o padre que leva os sacramentos
à moribunda sendo expulso do quarto da paciente, pelo médico. O que parece
interessar, talvez, pelo desempenho do sempre correto Toni Servillo, é o caso
do tipo que representa (o senador), de comportamento aparentemente paradoxal entre
votar contra algo que já viveu anos antes. E nesse ponto há um momento muito
bom dele encontrando a filha na estação ferroviária e ela pedindo para ler o
discurso a ser proferido por ele no senado contra a opinião da maioria que se
mostrava a apoiar a proibição de desligar aparelhos para deixar morrer certos
pacientes (quando acontece o óbito de Eluana e ele não precisa usar o que
pretendia em plenário). Este homem teme a reação da garota por suas palavras
que se chocam com o modo de pensar que ela tem, amparada na religião. Não é
possivel conhecer mais a fundo a reação da personagem em sua totalidade, como
expressão também dos outros casos apresentados. O filme tenta jogar os
argumentos para a plateia “decidir”, mas nada disso possui substância bastante
para mudar conceito determinado por parte do espectador. O cineasta não prega
uma conciliação entre partidários e contrários ao que se tem como “direito de
morrer” e também não se toca no caso de Ramon Sanpedro que foi a base do
argumento do filme de Amenábar chance de um desempenho excelente de Javier Bardem.
“A Bela que Dorme” ganhou 5 prêmios internacionais incluindo o de melhor
diretor no Festival de Veneza. Bellochio esteve bem melhor em “Vincere”(2009)
sobre Benito Mussolini, chegado por aqui só em DVD.
Dra. Marlene Nobre comenta sobre as consequencias espirituais da eutanaisa:
ResponderExcluirwww.youtube.com/watch?v=S9nC7mYVeAc