segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

RETROSPECTIVA 2009- IV










Para lembrança dos leitores deste espaço, prossigo a revisão e síntese sobre os filmes exibidos durante o ano em curso, em Belém, escolhendo somente os que receberam desta coluna cotações de 3 a 5 estrelas (bom a excelente):
“Um Táxi Para a Escuridão” (Táxi to the Dar Side) é um documentário chocante. O diretor Alex Gibney conta o drama de Dilawar, um taxista do Afeganistão que é confundido com um terrorista, preso pelos soldados norte-americanos, torturado a ponto de ter as suas pernas esmigalhadas, e morto, recebendo no atestado de óbito emitido como conseqüência de “causas naturais”. O filme lança mão de farto material conseguido a duras penas, muitas imagens tiradas de fotos digitais feitas pelos próprios carcereiros. Ganhou o Oscar da categoria (documentário) em 2008 e mais 9 prêmios, incluindo o Emmy(considerado como o Oscar da televisão).
“Gran Torino” deu o que falar pela simplicidade e força narrativa. Clint Eastwood dirige e interpreta, incorporando o personagem de um ex-combatente na guerra da Coréia, depois funcionário da Ford, que odeia asiáticos (por lembrar-lhe as pessoas que matou na guerra) e que acaba recebendo como vizinhos uma família chinesa. O personagem é viúvo e mal humorado. Guarda com carinho o seu automóvel Gran Torino modelo 1970 e odeia quem toque nele. Circunstancias levam-no a defender os chineses da representação de marginais do bairro, num fato discriminador. O cineasta disse que é seu último filme como ator. Deve ter sido força de expressão. Tudo funciona neste trabalho simples, mas bem realizado.
“Entre os Muros da Escola” ganhou prêmio em Cannes e reflete sobre pedagogia da sala de aula, acompanhando um professor que insiste na participação de seus alunos em trabalhos de sua matéria. A classe é formada de pessoas de famílias menos favorecidas e nem sempre o professor é compreendido. Direção de Laurent Cantel.
No mesmo tema também merece ser lembrado “A Onda” de Dennis Gansel, onde a discussão prática sobre autoritarismo provoca uma face da teoria nazista pela afinidade com as idéias que são lançadas e absorvidas por parte de uma faixa de alunos.
Candidatos ao Oscar merecem menção, especialmente “O Leitor”, “Milk” e “Duvida”(na ordem em que foram lançados). Dos três ressalto o papel de Sean Penn incorporando o empoderamento de seus amigos em torno do ativismo político como o político homossexual em “Milk”; e Philip Seymour Hoffman em um grande duelo interpretativo com Meryl Streep, em “Dúvida”, ele protagonizando um padre professor e sua maneira de tratar a intolerância religiosa e ela uma freira, diretora de colégio que teima em impor uma dimensão conservadora nas atitudes dos seus comandados. Uma boa adaptação de uma peça teatral do próprio autor da peça, John Patrick Shanley.
Dois filmes do russo Andrzej Sokurov foram exibidos quase ao mesmo tempo: “O Sol” e “Alexandra”. Reflito sobre o segundo, onde se destaca a cantora lírica que pouco fez cinema, Galina Vishnevskaya, como a avó que vai em visita ao neto na linha de frente de uma guerra. Em outra dimensão, o filme lembrou “A Balada do Soldado” do também russo Grigori Tchoukrai, mas com um detalhe: naquele titulo dos anos 60 a força da panfletagem política sobressaia no melodrama e acabava com um toque patriótico, revelando que o herói que vai ver a mãe e volta para morrer em combate é “um soldado russo”. No filme de Sokurov a avó não endossa a profissão do neto e no tempo em que passa ao lado dele cativa, com sua simpatia, os camponeses da região onde os soldados estão acampados.
“O Casamento de Rachel” é um drama familiar antigo reativado no retorno das figuras participantes desse drama. Uma jovem considerada insana tem alta do hospital psiquiátrico para participar de um momento festivo: o casamento de sua irmã. Roteiro coeso e seguro da filha do diretor Sidney Lumet, Jenny Lumet e boa direção de Jonathan Demme. Mais sínteses amanhã.
Já solicitei antes aos leitores e reafirmo agora que me enviem outros titulos de filmes que julgaram estar de fora da minha lista. E não esquecer de participar da escolha de melhores filmes dos leitores.

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