A série “Shrek” da empresa DreamWorks, lançou o gato manhoso que
derivava de outra lenda, desta vez escrita por Charles Perrault e conhecida das
crianças brasileiras no passado. O “Gato de Botas” (Puss in Boots) era um tipo
até que divertido quando surgiu no mundo do ogro apaixonado e depois pai de
familia. Agora a empresa deu a ele o papel principal de uma produção que leva o
seu nome.
Dirigido por Chris Miller de um roteiro de Wiliam Davies e mais 3
colaboradores (citando Perrault) o filme decepciona quando quer estruturar o
tipo como um conquistador latino, com passado na policia e, em seguida, guinado
a perseguir um ladrão de feijões mágicos. No original, Miller usou a voz de
Antonio Banderas para estimular o sotaque espanhol do herói. Não se pode
desfazer o esforço do dublador, mas da caricatura anglo-americana para um
sotaque que força a compreensão em português vai um bom caminho.
Confesso que não aturei o gato com pendores eróticos. Achei forçado como
achei as imagens pesadas na penumbra que o roteiro passou a exigir. Para uma
animação que atrai especialmente crianças, o resultado foi frustrante. Mais uma
vez a DreamWorks perde para a PIXAR, concorrente que usa não só de técnica nos
seus “cartoons” como de temas sensíveis (a exceção de “Carros 1 e 2”, imposição
de John Lasseter, diretor do estúdio, ex-chefe do grupo de animadores da
Disney, obcecado por automóveis- e afinal o ultimo filme foi o maior fracasso
de público da produtora).
De minha parte espero ver “O Gato de Botas” em DVD supondo que as vozes
originais melhorem o resultado. Do que vi pouco tenho a dizer. Mesmo porque a
tecnologia na animação moderna, toda amparada por recursos digitais, goza de
uma hegemonia saudável.
Quanto à primeira estréia do ano, “Imortais”, do indiano Tarsem
Dhandawar Singh é uma aventura mitológica que brinca com os deuses e heróis
gregos enfocando batalhas passadas na Idade de Bronze. Nada a ver com o cinema
para a crítica (ou para festivais). O objetivo de divertir adolescentes pode
ser saudável desde que os incite a procurar informações pertinentes sobre a
Mitologia Grega. Lembro que na minha infância Monteiro Lobato fez publicar a
série “Os 12 Trabalhos de Hercules” e por ele a garotada aprendeu quem era quem
no Olimpo (o monte onde moravam os deuses). Pode ser que esse tipo de filme,
agora popular, faça o mesmo efeito. Mas a postura está evidenciando muito mais
a violência do que a gênese dos mitos. Com os avanços técnicos é muito mais
barato filmar hoje as aventuras dos titãs do que numa época em que os
produtores precisavam de artistas como Ray Harryhausen para elaborar “stop
motion” ou designavam centenas de extras para determinadas seqüências épicas.
Por isso se realizam muitas aventuras pseudo históricas. E a expectativa de
lucro não é tão grande (posto que a garotada de videogame quer sempre mais
alguma coisa). Mas em breve devo estar tratando do filme. Sem arriscar
recomendação.
Um outro assunto, uma vez que este espaço mantém a sua promoção de
trinta anos, é a recepção das listas de melhores filmes do ano dos leitores
deste espaço e/ou os do meu blog. A importância da participação, para mim,
revela-se não para medição do número de leitores/as, mas em função do
comparativo que se faz em torno do que foi importante para o público assistir
em tela grande e o que foi escolhido pelos membros da crítica. Por mais que
seja exposta a relação destes ultimos, nem sempre o leitor ou leitora deste
espaço sintoniza com alguns títulos. E essa diversidade é boa, haja vista
demonstrar o acúmulo diferenciado sobre cinema das várias platéias. Diga-se
isso até mesmo entre os membros da ACCPA cujas listas já foram aqui publicadas,
mostrando essa diversidade. O filme de Pedro Almodóvar, “A Pele que Habito”,
por exemplo, embora conste da relação final, muitos não gostaram do enfoque. O
mesmo de “Film Socialism”, de Godard que graças a Deus se manteve entre os
melhores.
Assim, convoco os leitores a mandarem suas listas pelo email ou para a
portaria deste jornal até o próximo dia 10. Fico na espera.
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