Federico Fellini e os atores Alberto Sordi, Franco Interlenghi, Leopoldo Trieste, Franco Fabrizi, Eleonora Russo de "Os Boas-Vidas"(1953)
Federico
Fellini (1920-1993) um dos mais inventivos cineastas do século passado (e um
dos meus preferidos) ganha um programa esta semana no Cine Olympia centrado em
seus melhores filmes (no olhar de quem fez a seleção). Aliás, do grupo escolhido
acho que só faltam: “A Doce Vida” (1960) e “E La Nave Va”(1983). Os demais
são, também, obras-primas à disposição dos cinéfilos a partir de hoje: “Os Boas
Vidas”(I Vitelloni, 1953), “Oito e Meio”(Otto i Mezzo, 1963), “Roma de Fellini ”(1972),
“A Estrada da Vida”(La Strada, 1954), “Noites de Cabiria”(Notti di Cabiria,
1957) e “Amarcord”(1973). As exibições iniciam hoje, terça, e seguem até
domingo nessa ordem de exposição.
“Os Boas
Vidas” explora os emblemas de “Amarcord”, haja vista que ambos tratam de
situações viividas na juventude e mocidade do diretor. O contexto é a cidade de
Rimini, ao sul da Itália, nos anos da 2ª Guerra Mundial. No primeiro filme não há
um enfoque político evidente. O que se vê é a rotina de rapazes que o autor
chamou de “vitelloni” e que realmente quer dizer “desocupados”. Fellini estaria
representado pelo personagem Moraldo, interpretado pelo ator Franco Interlenghi
(que ainda está no cinema e em 2010 participou do filme “La Bella Societá”, um
drama de Gian Paolo Cugno). Em sua figura, Fellini centra algumas indagações
das mudanças internas que está vivendo e, no final do filme, é quem parte para
Roma. “Amarcord” pode ser Moraldo em Roma, mas como não foi a concretização do
projeto chamado “Moraldo in Cittá” ficou uma crônica independente onde tipos
pitorescos contam a história da Itália no período. A trilha sonora e canções de
Nino Rota dão ênfase a esses tipos e ao quadro histórico brilhantemente
reconstituído. É um tempo em que as descobertas adolescentes dos protagonistas
se mesclam ao autoritarismo familiar e às idéias em escalada do fascismo.
“8 e
Meio” é a síntese da obra felliniana. Acompanha um diretor de cinema que intenta
fazer um filme de ficção-cientifica depois de trabalhar ideias que se esgotam.
O intelectual em crise passa em revista a sua vida. Fellini pensou: assim como
os compositores numeram suas obras ele, em cinema, numeraria a sua. É a sua
sinfonia, o oitavo longa-meragem somado a um curta que realizou para compor uma
coletânea.
“Roma de
Fellini” traduz a versão sobre essa capital que o jovem de Rimini vê quando
chega do interior para trabalhar como jornalista. Tipos e fatos em tempos díspares
surgem em tom pitoresco, tentando não só um painel histórico, mas captar a alma
do povo. Um depoimento sincero que o próprio Fellini mostra atuando.
E chega o
meu segundo filme predileto: “La Strada”. Impossivel esquecer Gelsomina
(GiuliettaMasina), esposa de Fellini, como a mocinha interiorana que é levada
da família pelo saltimbanco Zampanô (Anthony Quinn, excelente) depois que a
irmã dela , ajudante desse personagem, havia falecido. A ingenuidade de
Gelsomina e a brutalidade de Zampanô entram em choque quando surge na vida deles
“Il Matto”, um equilibrista que também se exibe nas ruas. Esse tipo é
interpretado por outro grande ator: Richard Basehart(1914-1984). Há uma
sequencia que me parece marcante: vendo Gelsomina triste, O Louco (Il Matto)
diz à ela que tudo no mundo tem razão de ser que até uma pequena pedra se não
existisse poderia gerar uma catástrofe. É uma forma de dar valor à pobre garota
que sofre nas mãos de seu patrão, amante e tudo o mais. E Giulietta volta a um
tipo semelhante, três anos depois, no também excelente “Noite de Cabiria”.
Neste filme ela protagoniza uma prostituta ingênua que se ilude com as
promessas de um pretenso namorado. A desilusão final onde a tristeza se
dissemina no espírito da jovem é diluída quando um grupo de garotos passa por
ela cantando. E ela sai atrás deles. A vida sempre continua.
E assim
era Federico Fellini e seu cinema. Saído do movimento neorrealista, onde atuou
em roteiros e chegou a estrear na direção ao lado de um dos nomes desse
movimento, Alberto Lattuada, em “Mulheres e Luzes” (Lucci Del Varietá, 1950), o
“vitelloni” de Rimini esmerou-se na criação de um cinema próprio, a mescla de
cruel realidade e sentimentos que relevam os maiores problemas. Sua alma de
interiorano de uma cidade italiana marcou o grande mote para uma obra imortal.
A personagem Saraghina em "Amarcord" (1973).
ver Fellini sempre é bom, uma aula de cinema
ResponderExcluirÉ isso, Alex, é um dos meus melhores diretores. Tenho paixão por ele. Aliás, é bom dizer: as listas dos leitores sairá na segunda feira. na Minha coluna e aqui também. Abçs.
ExcluirOntem vi Estrada da Vida, excelente filme
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