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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
AINDA LULA, O FILME
Volto, como prometi, ao filme de Fabio Barreto “Lula, O Filho do Brasil”.
A primeira seqüência, sem falas, é muito bem construída. O pai despede-se da mulher e dos filhos e sai andando calmamente pela terra árida até encontrar, no caminho, uma mulher grávida que o acompanha. Nessas imagens diz-se de alguma estrutura de personagens. E lança uma expectativa em torno do que virá em novas imagens bem captadas pela direção de fotografia a cargo de Gustavo Hadba.
Até o segundo ato, quando o menino que viaja com a mãe e irmãos num “pau de arara” do sertão pernambucano de Caetés a Santos (SP), a narrativa não se desvia do enfoque primitivo. Mas os estereótipos não demoram a ser mostrados. A fúria do pai em bater na criança quando a vê brincando (“-Vai trabalhar, moleque”) é um modo de caracterizar o personagem de forma unilateral. O roteiro segue o sectarismo comum em muitas cinebiografias, até mesmo em clássicos norte-americanos (recentemente revi a de Louis Pasteur, um quadro fechado de um pesquisador que não vive além de um trabalho que deixou). E o enfoque se agrava quando a primazia é o lado sentimental da história. O casamento em 1969, com a operária Maria de Lourdes da Silva, irmã de seu grande amigo "Lambari" e, subsequente, a gravidez, adoecimento e morte da jovem e da criança, são pontos destacados nesse sentido. Mesmo omitindo o romance de Lula com Miriam Cordeiro, mãe de sua filha Lurian, o roteiro abandona o operário que vai se destacar como orador, que vai aprender a se comunicar com multidões mesmo sem uma escolaridade acima do curso fundamental.
O ativismo político, onde deveria ser destacado o capital pessoal do sindicalista e seqüenciamento da linha político-partidária com a criação do PT, fica reticente. O que se destaca até como base da narrativa sobre o Lula adulto é a greve do ABC paulista durante o governo de João Batista Figueiredo e a conseqüente intervenção militar que reprime e prende os contrários ao regime como o líder do movimento. Mas não se diz o modo como esse líder se formou, especialmente por focalizá-lo até então como uma pessoa tímida. Demonstra ser arrojado ao conhecer a jovem viúva de um taxista assassinado, Marisa Letícia, passando a cortejá-la e pedindo-a em casamento.
As interpretações fazem força para dar certa credibilidade a determinadas seqüências. Mas o melhor independe dela. Há um plano em que os objetos somem do quadro restando uma figura em foco. Só que é tudo muito rápido, sem se dar relevo ao processo de filmagem, no caso, uma síntese do tempo gasto na ação.
“Lula, O Filho do Brasil” não chega nem a ser melodramático e folhetinesco como “Os 2 Filhos de Francisco”, uma fórmula certamente perseguida pela produção a partir de um sucesso de bilheteria. A ascensão à presidência, com as pugnas enfrentadas para chegar a isso, são relatadas em legendas finais. E poderiam servir a uma base estrutural da história de vida. Como foi. Omitindo ali e acolá o filme resta um exemplar a mais de cinebiografias feitas pela indústria para uma recepção de comércio. Ou a idéia de que o público quer uma leitura breve e episódica, melhor ainda se for sentimental.
Outra versão que está circulando a partir do lançamento do filme é a de que este se presta a uma dimensão eleitoreira e teria sido realizado para cumprir esse objetivo. Há, inclusive, um blog relacionando as empresas que disponibilizaram recursos para a produção do filme, destacando o envolvimento de algumas com parentes do presidente, e outras que fizeram doações para as campanhas eleitorais anteriores.
Se o filme teve esse propósito, vai ter que ser avaliado a partir do desempenho eleitoral da ministra Dilma Rousseff e a possibilidade de transferência de votos de Lula para ela como provável candidata do PT à presidência da república. Nesse caso, o fato do lançamento das 500 cópias do filme a partir de 1º de janeiro em exibição em todo país pode alterar os percentuais de intenção de voto para a candidata. Mas para quantificar essa variável terá que aplicar uma nova pesquisa de opinião nas cidades em que o filme está sendo exibido, com o script relacionando-o à candidata a partir de uma resposta espontânea.
Contudo, não posso afirmar que o trabalho de Fabio Barreto vai ser sucesso de bilheteria como parece ter perseguido. A julgar por Belém e pelas noticias de que não está recebendo boa afluência de público nas salas do sudeste, a permanência em cartaz nos principais cinemas do país não vai ser longa.
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