sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O TEMPO É UMA ILUSÃO









René Clair (1898-1981) foi até hoje o único cineasta a fazer parte da Academia Francesa. Fez filmes entre 1923 e 1965. Iniciou-se influenciado pelo movimento surrealista e, em 1932, alcançou grande sucesso com a comédia “À Nós a Liberdade” (A Nous, La Liberte), uma sátira ao avanço tecnológico, que inspirou Charles Chaplin a realizar “Tempos Modernos”(Modern Times/1936). Durante a guerra, Clair viajou para os EUA e em Hollywood dirigiu 5 filmes. Duas fantasias se evidenciaram: “Casei-me com uma Feiticeira” (I Married a Witch/1943) e “O Tempo é Uma Ilusão” (It Happened Tomorrow/1944). Este último ressurge agora em Belém, sendo projetado no cinema Olympia durante esta semana.
O titulo original, ”Aconteceu Amanhã”, chegou a merecer uma tradução linear no Brasil na primeira reprise do filme, assegurando a ironia básica que preside a história de Dudley Nichols (colaborador de John Ford em obras-primas como “No Tempo das Diligências” e “Vinhas da Ira”). O filme trata de um encontro do repórter Larry Stevens (Dick Powell) com o arquivista do jornal onde trabalham (John Philliber), um veterano no emprego, que filosofa sobre o passar do tempo comparando com o dobrar das folhas dos jornais colecionados. Segundo ele, ao folhear o arquivo, os exemplares do jornal vão cruzando o passado para o futuro, desde que se acessem as paginas a serem ali colocadas. Desta forma, quem for ler as últimas páginas encontrará as noticias do dia seguinte. Essa teoria é posta em prática para o cético Larry que certa noite recebe, através do arquivista, o periódico do dia seguinte. O fato entusiasma o repórter, mas junto com os jornais “de amanhã” o amigo aconselha-o a não repetir a experiência. E logo percebe o motivo: num dos próximos exemplares está a reportagem de sua própria morte.
A narrativa dinâmica privilegia a comédia, dilui a dramaticidade do enredo e ganha campo na corrida pela vida diante de uma anunciada fatalidade. O filme inicia com um casal se preparando para as comemorações de suas bodas de ouro. A esposa pede ao marido que não conte aos convidados o que lhe aconteceu anos atrás. Em flash-back o motivo é conhecido: a esposa (Linda Darnell) era ajudante de mágico em um cabaré, uma ligação do fascínio de Larry em saber o futuro.
René Clair tinha inclinação pelo enredo fantástico e irônico onde podia inserir o seu toque poético (e ele deixou livros de poesia). Em “Esta Noite É Minha” (Les Belles de la Nuit), por exemplo, ele aborda um pianista tímido que sonha com mulheres bonitas que o adoram. Por isso deseja sempre dormir. Quem nunca assistiu a um filme desse diretor que inicie uma viagem pela sua obra com este “O Tempo é uma Ilusão”, em exibição no Cine Olympia. Usando da ironia do autor, posso dizer que não é perda e sim ganho de tempo.
Cotação: Excelente (*****)

INCONVENIÊNCIA

O Cine Estação está mudando as suas sessões de cinema dos finais de semana para o meio da semana. Com isso não leva em conta que muitos espectadores trabalham, estudam, não dispõe de tempo para ir ao cinema nas 4as e 5as feiras como querem agora os programadores das simpáticas projeções no Cine-Teatro Maria Sylvia Nunes.
Se a medida é para ganhar público, o efeito será justamente o contrário. Além disso, as matinais de domingo, por exemplo, alimentando um costume que era próprio de Belém, valiam até como atração turística. Muitas pessoas iam ao cinema e depois almoçavam nos restaurantes da Estação das Docas, apreciando a bela paisagem adiante. Isto sem falar no ponto de encontro de cinéfilos autênticos, de pessoas que amam o cinema e que agora se posicionam radicalmente contra a mudança. Minha posição e de alguns colegas da ACCPA é a de lamentar mais essa perda para Belém. Sempre dei cobertura aos lançamentos desse espaço e agora presenciar esse corte é lamentável. Reconheço que é dramático deixar de assistir a alguns filmes importantes programados, mas as platéias para o tipo de filme exibidos ai carecem de certa consideração, pois muitos são docentes dando aulas a noite, só tendo o sábado e domingo para ir ao cinema. Respondemos por uma platéia. E não só registramos os programas em exibição. Uma pena se prevalecer esse incomodo horário.

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