terça-feira, 12 de janeiro de 2010

LULA, FILHO DO BRASIL


















Cinebiografias se revelam extremamente importantes para prover as informações de um/a pesquisador/a que necessita de outros olhares e áreas (no caso, da antropologia visual) na busca pela composição integral de seu objeto de estudos. Dessa forma, torna-se um documento mais próximo de um público que prefere o conhecimento através das imagens a da leitura de um livro biográfico, às vezes monótono, deixando de ser um material sedutor de apreensão do que se quer abranger.
Há diversas formas de desenvolver, a partir dos elementos do cinema, a biografia de um vulto histórico, um personagem popular, enfim, um tipo que tem referenciais sugestivos para mostrar sua contribuição à sociedade e ou, então, tornou-se uma figura mítica a partir de sua história de vida. A dramaturgia, às vezes, apela para os dois elementos e refaz o percurso desses vultos usando tanto uma pesquisa histórica já traduzida em livro, ou começa de documentos inéditos criando roteiro original, de alguma forma fornecendo imagens que acoplam os recursos documentais aos recursos da ficção. Cada um desses formatos recebe da produção, um selo comercial destacando um gênero cinematográfico. Para alguns, a cine-biografia documental é produto despojado de elementos ficcionais, enquanto as biografias que enxertam elementos dramáticos reforçam a tendência romanceada e melodramática da história. Para uma exemplificação: “Cazuza – O tempo Não Pára” (2004) de Walter Carvalho e Sandra Werneck, “Dois Filhos de Francisco (2005) de Breno Silveira, “Meu Nome Não é Johnny”, de Mauro Lima, são tratados como drama, enquanto “Vinicius” (2005) de Miguel Faria Jr. é sinalizado como documentário.
O filme de Fábio Barreto “Lula, O Filho do Brasil” (Brasil, 2009) é uma cinebiografia extraída de um livro homônimo escrito por Denise Paraná que também está nos créditos do roteiro (com Fábio Barreto, Daniel Tendler e Fernando Bonassi), tende ao drama, a exemplo do que Breno Silveira fez sobre o pai de Zezé di Camargo e Luciano, para biografar os dois cantores, a partir de um roteiro original de Patrícia Andrade e Carolina Kotscho. Mas Barreto & equipe não conseguem assegurar uma narrativa que promova a confiança na história de vida do personagem focalizado.
Observa-se um desnível muito forte entre a primeira parte do filme – as seqüências em que a formação da família de Lula se acha ainda nos sertões de Pernambuco (Caetés), onde as imagens exploram as desventuras de uma família sobrevivente numa parte do nordeste excessivamente pobre convivendo e reproduzindo a cultura do desapego afetivo e as nuances da violência domestica a partir da visão do “cabra-macho” e da submissão feminina e infantil ao poderio masculino, a falta de perspectivas da educação formal e a redução do conceito de sobrevivência à imposição do trabalho infantil para ajudar na renda familiar.
Nesse aspecto, as imagens acodem a outras abordagens sobre essa situação já vistas em filmes que tendem a revelar criticamente a odisséia dos nordestinos fadados à miséria em todos os aspectos. E nessa idéia se ajustam pelo toque da câmera a uma narrativa econômica de falas.
A segunda parte é trágica ao capturar a vida dos retirantes para a “cidade grande”, tangidos pela miséria, tornando-os ainda mais dependentes de recursos (afetivos e econômicos) e com a violência domestica traduzida em outros planos da condição subumana.
As soluções narrativas criadas para explorar os fatos descolam uma base ficcional que desrespeita a realidade e discrepa o enfoque, reduzindo a mera tipificação de situações marcadas pelo dèjà vu, onde os acontecimentos se mostram mascarados e processam imagens pouco convincentes e aparenciais, deslocando-se para uma forte fragmentação.
Não conheço o livro que deu margem ao roteiro, mas desde jovem acompanhei a trajetória de Lula através dos noticiários de jornais e revistas que pautavam a situação sindical dos metalúrgicos em um tempo em que a política brasileira tendia ao confronto entre as forças sociais e as militares. Expoente dessas abordagens, a revista Novos Estudos (CEBRAP), publicou uma entrevista com o então dirigente sindical onde os pontos principais de suas metas na atividade política emergiam e faziam a diferença com aquele mundo mantido no status quo da hierarquia do governo. Desse conhecimento, observei que o filme falha no roteiro, traz apenas algumas “pinceladas” sobre o que se constituiu numa trajetória triunfante de um sindicalista que só estudou o primeiro grau, mas tinha uma profissão que lhe deu um emprego, o lugar de onde avaliou a exploração de seus colegas operários.
As interpretações dos principais atores dirigidas por Cibele Santa Cruz, não conseguem se desvencilhar de estereótipos, principalmente Cléo Pires. Volto ao assunto.

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