domingo, 31 de janeiro de 2010

DO GLOBO DE OURO AO OSCAR: PERSPECTIVAS


















Como de praxe, muitos filmes candidatos a prêmios importantes da indústria cinematográfica nem sempre chegam aos cinemas de Belém. Nem antes nem depois das premiações. A contrapartida do cinéfilo é assistir a alguns desses indicados da forma que lhe for possível, ou fora do estado ou através da Internet. Afora isso, não é tão problemático um presságio sobre quem vai sair ganhando um objeto dourado.
Este ano, foi possível constatar que o Globo de Ouro fez justiça ao melhor filme estrangeiro: “A Fita Branca” (2009), de Michael Haneke. O diretor de “Cachê” (2005) esmerou-se na sua visão preto e branco da Alemanha de antes de 1ª Guerra Mundial, observando o comportamento dos habitantes de uma cidade da zona rural, onde fatos estranhos ocorrem, criando um microcosmo de onde possibilitou extrair elementos capazes de entender algum motivo de mudanças sociais que abrigariam regimes de força e conseqüentes conflitos. O filme exibe uma cinegrafia admirável e uma direção de elenco digna dos maiores elogios. Não há um só elemento destoante. Todos colaboram para formar um painel histórico que marcaria o século XX.
Também os jurados do Globo de Ouro acertaram em dar um prêmio ao roteiro de Sheldon Turner e do diretor Jason Reitman para “Amor sem Escalas” (Up in the Air, 2009). O filme não só condensa o assunto, refletindo sobre um personagem que acha muito bom viver voando, ganhando milhas e milhas de companhias aéreas, sem ter tempo para constituir família ou fortalecer o afetivo, mas trata de uma situação nada agradável que é transmitir a funcionários de diversas firmas, a notícia de que serão despedidos. George Clooney, o ator que encarna bem esse tipo, é um dos solteirões convictos de Hollywood, tendo sido até alvo de apostas de colegas sobre a probabilidade de chegar sem mulher e filhos aos 50 anos. Ele está perto disso. O que importa é que o roteiro trata muito bem o que propõe o original literário e exibe diálogos dos mais inteligentes dos últimos anos em cinema. Sem pedantismo trata de filosofia de vida e lança a poesia para a sensibilidade do espectador.
Vencedor em sua categoria (animação) e trilha sonora, “Up, Altas Aventuras” já é considerado o Oscar do gênero este ano. A concorrência mais séria é “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze, o diretor de extravagâncias como “Quero ser John Malkovich” e “Adaptação”. O roteiro foi extraído de um livro (de Maurice Sendak) lançado em 1963. Dizem ser um filme para adulto, mas a ameaça é de que, se chegar por aqui, troque as vozes originais por uma dublagem duvidosa.
Quem levou a melhor, também, foi Robert Downey Jr. por seu desempenho em “Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie, o filme indicado na categoria de melhor em comédia ou musical. Essa premiação dá cacife para a indicação desse ator ao Oscar considerando que este ano serão 10 concorrentes.
Outro acerto foi o ator coadjuvante de cinema, Christoph Waltz, intérprete do alemão sanguinário de “Bastardos Inglórios”. Embora estereotipado, e isso me pareceu parte do projeto, pois o filme é uma comédia sobre a tragédia da perseguição aos judeus na 2ª.Guerra Mundial, o ator impressionou bastante. Deve repetir esse feito no Oscar pois recentemente foi premiado pelo Sindicato dos Atores Americanos .
Outro Globo interessante foi dado à comédia (essa premiação separa comédia e drama) “Se Beber Não Case” (The Hangover), uma proposta surrealista que me pareceu novidade no gênero. Dirigida por Todd Phillps, o filme divertiu e inovou. Ou alguém descobriu de onde surgiu uma galinha no apartamento dos amigos beberrões?
O vencedor do Globo de Ouro da categoria “filme para a TV” também foi um tiro na mosca: “Grey Gardens” de Michael Sucsy. Já comentei aqui ao tratar de vídeo. Drew Barrymore e Jéssica Lange interpretam, respectivamente, filha e mãe, parentes de Jacqueline Kennedy (na época, Onassis), que viveram no esplendor e, depois, empobrecidas, numa casa em ruínas, sendo auxiliadas pela ex-primeira dama dos EUA. Drew também ganhou prêmio, mas foi uma injustiça esquecerem Jéssica Lange.
Como o Globo e o Oscar são prêmios da grande indústria para a grande indústria não é de espantar a vitória de “Avatar”, na categoria “drama” (e no Oscar pode ser simplesmente de filme, além de levantar outros troféus). Se alguém duvida que o cineasta James Cameron é o “rei do mundo” como anunciado por Leonardo Di Caprio em “Titanic” deve rever suas idéias com o sucesso deste megaespetáculo realizado para o processo 3-D. Além de exibir efeitos especiais extraordinários leva no bojo uma critica às intervenções de poderosos às culturas de minorias. Situação que os norte-americanos entendem desde a matança dos índios de suas terras. O filme já ultrapassou o prestigio de “Titanic”, nas bilheterias mundiais.

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