sábado, 30 de janeiro de 2010

UP IN THE AIR














Há títulos de filmes que pouco dizem ou até mesmo se apresentam de forma equivocada sobre o que tratam ou sobre o que pretendem traduzir. “Up in the Air” foi traduzido do titulo original para “Amor sem Escalas” e, nesta tradução, contradiz o tema que é a constatação da solidão de um homem que vive viajando. No caso, o amor está distante e chega a ser desencontrado quando ele o procura.
O roteiro, com base no livro de Walter Kirn, trata de Ryan Bingham (George Clooney), o funcionário graduado de uma empresa norte-americana que viaja para diversas cidades do país com o objetivo de despedir funcionários de firmas que os contratam para esse fim. A tarefa, obviamente, não é nada agradável, mas Ryan se acha muito bom r mostra expertise no modo como transmite as tristes mensagens aos empregados demitidos. Tudo segue uma rotina que ele conjuga sem enfado, pois resume a sua bagagem em uma sacola onde leva o bastante para permanecer nos diversos postos. Mas a tecnologia alcança este setor e uma técnica novata (Anna Kendirck) cria uma inovação: supõe o ato de demissão com menos custos através da Internet. O modo de agir ganha as mesmas mensagens de consolo com a vantagem do encarregado de dispensa não aparecer pessoalmente. O processo agrada à gerência até porque evoca a contenção de despesas comum na crise econômica atual, mas logo se sabe que as coisas não funcionam assim e que uma das mulheres dispensadas pratica o suicídio ao receber a notícia do desemprego. Para a rotina de Ryan, ele supõe uma mudança de vida, aceitando a oferta de não mais viajar mantendo estáveis os encontros periódicos com uma jovem (Vera Farmiga) também viajante costumeira. Mas a idéia de estabilidade tem seus percalços na vida do executivo e sua intenção sofre transtornos.
O filme ganhou o Globo de Ouro de melhor roteiro este mês, escrito pelo diretor e Sheldon Turner, difere, entretanto, do livro original na base: o viajor primitivo não é um emissário de más noticias. Apenas é um empregado que voa muito, ganha milhas e milhas em viagens de avião e objetiva chegar a uma cifra considerável. Jogando a história para o problema atual do mundo capitalista, o filme ganha uma dimensão muito mais significativa. E o diálogo é excelente, jogando o plano econômico para o custo social do desemprego, mas consegue afinar-se, também ao poético. Há momentos de grande beleza como o que o eterno viajante (e celibatário) tenta reverter a opinião do noivo de sua sobrinha que, na hora do casamento, resolve não mais casar. O rapaz revela sua ansiedade nos acontecimentos pós-casamento, de como seria a sua vida com esposa e filhos, mais tarde com netos. Temia essa rotina. Ryan, que pensava de forma quase igual rebate com uma pergunta: “- Os momentos mais felizes de sua vida você passou sozinho ou acompanhado?” O noivo confessa que foi acompanhado e assim a idéia de fugir do altar cai por terra.
Com uma narrativa dinâmica sem sair de uma cronologia que todos podem acompanhar, o filme enquadra tipos e situações dramáticas sem perder o norte da objetividade, com humor e sofrimento. O diretor usou pessoas que realmente foram despedidas de seus empregos para as tomadas relativas ao assunto. Disse que se tratava de um documentário. Assim, o público vê nessas seqüências desempregados recentes, quadro que ainda repercute nos EUA e no mundo e que vive em paralelo com personagens que estão vivendo disso embora levem na bagagem emotiva problemas que também são amargos. George Clooney ilustra muito bem essa tese como o “homem que voa”, o executivo que aparentemente ganha bem e deve viver bem, mas que, na verdade, é um solitário que se escusa em pensar nisso. Emblemática é a cena em que ele, numa viagem, ganha o prêmio por suas milhas de vôo e recebe a visita do comandante da aeronave. Ele sempre desejou isso, mas na hora em que acontece pensa na sua frustração, no quanto têm escondido sua própria vida.
Desde já um dos bons filmes deste ano.
Cotação: ****(Muito Bom)

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