terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A PRINCESA E O SAPO










Um crítico e, também, historiador de cinema disse certa vez, a propósito de temas mal explorados em roteiro & edição, que “de boas idéias o inferno está cheio”. Inferno, no caso, é o desperdício de material muitas vezes precioso, assuntos que renderiam muito bem em outras mãos ou condições. Penso assim diante da nova animação da Disney, corajosamente rodada em 2D, ou seja, na prancheta com desenhos dispostos à moda antiga: “A Princesa e o Sapo” (The Princess and the Frog/EUA,2009).
O enredo sobre uma garota pobre que deseja encontrar o seu príncipe encantado e depara com um sapo que se diz esse príncipe, ganha contornos originais em dois tempos: primeiro porque ela, ao beijar o sapo como diz a lenda na fórmula de desencantar o mancebo, transforma-se em sapo como ele. Depois, a história se passa em Nova Orleans dos anos 20, no auge da Era do Jazz. A mocinha, no caso, é afro americana. O príncipe é branco. Uma figura aristocrata é loura e coadjuvante “sem trono”.
Todos os tipos e situações são embalados pelo ritmo que deu fama à região. Com ironia e subvertendo em parte os contos de fadas, a história caminha naturalmente para o “happy end” com o cuidado de esvaziar qualquer preconceito. Até com referência aos animais.
O romance da mocinha garçonete e independente e o sapo da lagoa, ajudado por um crocodilo e um vaga-lume, ganha uma edição frenética de Jeff Drahein e os traços verticais de uma equipe que vem trabalhando na empresa do Mickey desde que os “9 velhos”, ou seja, os desenhistas pioneiros do estúdio, se aposentaram (hoje não deve existir mais nenhum). É só comparar os bonecos com aqueles edificados por Hal Ambro ou animados por Donald Halliday sob a direção de Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske em “Cinderella” (1950). O traço era redondo, mais anatômico, as figuras, até dos animais, pareciam simpáticas na medida em que copiavam de perto as reais, e a montagem era linear, seguindo o compasso de um a trilha sonora romântica como pedia o tema. Agora tudo isso é subvertido. Os desenhistas desejam que as figuras fujam totalmente do realismo e a animação siga os videogames. Investe-se na sedução da nova geração. Em todo caso, é correto dizer que esse processo procura revitalizar e expressar as velhas tramas de princesas, mesmo sem “sangue azul” e príncipes que podem estar ou não encantados, usando personagens que traduzem o “politicamente correto” em termos de diversidade, tema atual em todos os cenários.
A música segue o ritmo de Nova Orleans dando margem até ao “mardi-gras”, ou seja, o carnaval de lá. É oportuna, mas perde muito na dublagem para o português.
O filme vai bem nas bilheterias norte-americanas. Afinal, quem paga ingresso é quem se criou vendo desenhos depois de “A Pequena Sereia”, de Clemens & Luske.
Cotação: Razoável (**)

REGISTRO

Estão chegando listas dos melhores filmes dos leitores deste espaço. Nelson Jonsthon já mandou a sua, assim como o Orlando Sergio, o Jeison Guimarães, o Thiago Carneiro, Edyr e Waleska Falcão e outros, usando meu email. Mas espero receber um maior número para poder contabilizar a todos, numa promoção que já ultrapassou os 30 anos. Vou dar uma margem maior de recepção dessas listas até o dia 10/01.

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