segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CLÁSSICOS LEGITIMOS







Nos dias atuais, o termo “clássico” tornou-se sinônimo de antigo. Especialmente em cinema e, mais evidentemente, em DVD. Se na prateleira especifica de uma locadora ou loja especializada você encontra filmes como “Cárcere de Mulheres”, produção mexicana de Miguel M. Delgado, felizmente encontra, também, títulos marcantes, alguns inegavelmente ligados a capítulos da história do cinema.

É o caso de “Anatomia do Medo” (Ikimono no Kiroku/Japão, 1955) de Akira Kurosawa. Neste exemplar, o mestre que revelou ao mundo ocidental o cinema japonês com “Rashomon”(1950), trata do pavor que seus conterrâneos adquiriram de uma guerra nuclear a partir dos fatos ocorridos em Hiroshima. O enredo trata do patriarca de uma grande família, Kiiji Nakajima, que constrói um abrigo anti-atômico para abrigar a si e aos seus. Gasta recurso considerável. Mas ao saber que a radioatividade assola o ambiente ele pára a obra e passa a arquitetar uma viagem para o Brasil, ciente de que na America do Sul não chegam os efeitos colaterais de uma explosão nuclear. A família resiste à idéia, mas o velho pai insiste. Após circular entre a burocracia em cartórios e contatos com japoneses residentes em S. Paulo acontece um acidente na fabrica que ele preside e resta um dilema: deixar tudo, inclusive os seus funcionários à míngua, ou abdicar da idéia de viajar. No final da trama Nakajima se vê confinado ao hospício, esperando ali o fim da civilização.

O filme reflete uma situação que não foi exclusiva dos japoneses. Uma nova guerra mundial com reflexo no uso de armas de destruição em massa gerou um subgênero de ficção-cientifica agregado ao terror. Mas, no caso da obra de Kurosawa é um raro exemplar do quanto a tragédia de Hiroshima e Nagasaki afetou os japoneses de um modo geral. Toshiro Mifune está irreconhecível no protagonismo do papel e Takashui Shimura, grande ator que Kurosawa dirigiu admiravelmente em “Viver” (Ikiru/1952) interpreta o tipo do melhor amigo do angustiado industrial. Aos que alugarem esse filme devem atentar para os enquadramentos. A sequencia final, com a câmera fixa em médio plano deixa ver de um lado, Shimura descendo a escada do hospital depois de ver o amigo e a filha deste subindo para visitar o pai. Excelente poder de síntese.

A expressão acabrunhada do amigo pelo que presenciou contrasta com a da jovem conformada (e quem sabe confortada) com a situação que livrou os parentes de uma viagem que podia levar-lhes à falência.

Outro clássico que chega é “Eu Te Amo, Eu Te Amo” (Je T’Aime, Je T’Aime/França 1968) de Alain Resnais. O roteiro de Jack Sternberg com Resnais n parceria leva à última instância a abordagem sobre a memória que o cineasta evoca desde “Hiroshima Mon Amour” (1950). O texto reflete sobre um quase suicida que é usado por cientistas para testar uma viagem no tempo. Ocorre que a cronologia dessa incursão pelo passado se perde e ele passa a viver de forma aleatória a sua vida, revisando conceitos. Um filme interessante e curioso, a ser visto agora quando se comenta “A Origem”, de Christopher Nolan e sua intromissão nos sonhos das pessoas.

Novidade e surpresa é “Casamento Silencioso” (Nunta Muta/Romênia,2008), de Horatiu Malaele. O roteiro reflete bem o ódio dos romenos pelos comunistas que governaram seu país por alguns anos. Trata da odisséia dos habitantes de uma aldeia, que se prepara para o casamento dos jovens Mara e Iancu, colocando fim às fofocas sobre as suas relações intimas. No dia do casamento, uma grande festa está sendo iniciada, quando chegam autoridades militares informando a proibição de qualquer evento por mais de uma semana, devido a morte de Stalin “o grande amigo do povo”. O pai de Mara não desanima e convida a todos, em silêncio a rearrumarem a mesa do grande banquete no interior da casa. Em silencio, os convidados se comunicam por gestos. Até que ao presenciarem a chegada de tropas, iniciam os cantos e as danças sendo alcançados pelos soldados que destroem a casa e matam a maioria dos convidados.

O filme inicia com a preparação de uma equipe da TV, na atualidade, para realizar um documentário sobre temas fantásticos. Onde era uma aldeia os comunistas criaram uma fabrica e quando substituídos por capitalistas, esta fechou e voltou a se construir uma aldeia. Tudo isso é motivo de reflexão num trabalho que exige tragédia, humor, fantasia e cultura especifica. Um filme muito bom e extremanete político sem perder o humor, que se fosse exibido em alguma sala de Belém, este ano, seria cogitado para a lista de melhores do final do ano (uma lista, por sinal, paupérrima até agora).


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