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terça-feira, 3 de agosto de 2010
SALT
Lançado na semana passada em Belém,“Encontro Explosivo”(Knight and Day, EUA, 2010) mostrou a exacerbação do chamado “action-movie”, com as cenas de ação tomando conta de 80% da narrativa. A proposta seria agrupada numa forma surrealista de exibir o que interessa aos produtores: a perseguição permanente e fugindo de toda lógica, do casal de heróis por elementos ligados ao Estado ou de inimigos do Estado. Agora com “Salt”(EUA, 2010, 100 min.) a idéia praticamente se repete. Soma-se apenas uma diferença: a base da perseguição adentra pelos meandros da espionagem internacional, com a protagonista e provável “heroína” sendo questionada se é espiã norte-americana, fazendo jus ao emprego na CIA, ou russa, assumindo a qualidade de contra-espiã.
A trama questiona a posição de Eve Salt (Angelina Jolie) até o final do filme. Logo no inicio as imagens apresentam-na sendo torturada e depois libertada pelos oficiais da Coréia do Norte. Como consegue a liberdade, depois de conhecida como espiã americana, não se explica. Há menção, do responsável por fazer a troca e ir buscá-la no cárcere da nação comunista, o seu chefe imediato,Ted Winter (Liev Schreiber) de que a liberdade deveu-se a insistência de um jovem e ele aponta para uma pessoa que está esperando-a no carro. Subseqüente, a personagem é focalizada em casa, com o marido (justamente o jovem do carro), um cientista que estuda tipos de aranha, sendo também focada no trabalho com o mesmo agente que antes a libertara da prisão coreana. É nesse momento que os dois são chamados para avaliar o que diz um espião russo capturado pela inteligência. Salt interroga-o por dominar bem seu idioma. Mas é gravada a revelação, feita pelo prisioneiro, de que a moça é uma espiã russa. E ao invés de se explicar para os seus superiores ela parte em fuga, atrás do marido (eles comemorariam nesse dia aniversário de casamento). Daí em diante não há o que contar. Seqüências bem montadas com o auxilio de efeitos digitais mostram Salt entre correrias, desastres de carro (como de praxe em filmes do gênero), pulos de grandes alturas sem se machucar, enfim, peripécias dignas de super-heróis de gibi. Tudo até se ver o encontro dela com os chefões da espionagem russa que pretendem produzir um ataque nuclear à Casa Branca.
O espectador fica sempre indagando quem é, realmente, Eve Salt. Entre demonstrações de fidelidade aos lados opostos de briga ela vai se saindo bem até mesmo quando vê o marido ser friamente assassinado pelos russos. Este seria o teste de fidelidade da agente. Mas seria o bastante ou ela havia sido treinada para enfrentar até mesmo grandes traumas emocionais?
Não se pede muita lógica na ação e menos no enredo. O filme é mais um novo “encontro explosivo”, apenas com um fio de meada mais sedutor e o empenho de Angelina Jolie num papel que lembra a sua atuação em “Lara Croft, Tomb Rider”, exemplar do gênero com base em um videogame.
Angelina pode ficar de fora de muitas seqüências perigosas, deixando dublês e CGI fazerem por ela. Mas como está em quase todos os planos chega a criar a dúvida no espectador com a capacidade física apresentada. E a maquilagem, ajuda muito fazendo parecer cansada a personagem que desafia qualquer mortal.
Aliás, interessante nos dias atuais a escolha de mulheres para esse tipo de aventura no cinema e, Angelina Joli tem sido sempre predestinada a essas grandes aventuras. Não se pode dizer que somente agora os produtores descobriram a figura feminina para incluí-la nesse meio da fantasia da ação. Se fizermos um retrospecto na História vamos encontrar, nos quadrinhos e nos filmes, Mary Marvel, Narda (parceira do Mandrake), Diana (Fantasma) Lois Lane (Super-Homem) que sendo namoradas àquela altura vivenciaram aventuras com seus pares. Mas hoje o sistema é outro. As mulheres impuseram sua forma de ser lutadoras e o cinema tem achado que isso serve para mostrá-las nas ficções como heróicas na política do mando. É bom para a imagem feminina? Até certo ponto é reconhecimento desse gênero na parceria em todas as formas de convivência humana. Mas geralmente a fantasia detona o que pode ser verdadeiro em outras lógicas.
Sobre “Salt”, um critico norte-americano disse em outras palavras que é “o melhor de um filme ruim”. Pode ser. Quem busca um tipo de cinema mais denso, mais responsável, mais preocupado com o que deseja expressar (e o que vale a pena ser expresso) pode passar ao largo. Mas é difícil despegar os olhos da tela nas pouco mais de hora e meia de correrias. Um programa divertido, com todos os lugares-comuns disponíveis, e uma pseudo crítica a certos valores, até mesmo à qualidade de herói (ou heroína).
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