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sábado, 7 de agosto de 2010
O SEGREDO DE SEUS OLHOS
Quando se pensava que o Oscar de filme estrangeiro ficasse este ano com o filme alemão “A Linha Branca” os argentinos surpreenderam com “O Segredo de Seus Olhos”(El Secreto de Sus Ojos/2009) de Juan José Campanella. Foi um feito mais inesperado do que o fiasco da seleção de futebol comandada com ufanismo por Maradona. Mas um filme de bom nível a ser descoberto internacionalmente. E mais: um ato de justiça a um cineasta que vem acertando há alguns anos como provam “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva”(1999), “O Filho da Noiva”(2001) e “O Clube da Lua”(2004).
Reunindo a dupla de atores de “O Mesmo Amor...”, Ricardo Darin e Soledad Vllamil, o diretor-roteirista-editor, com base em um romance de Eduardo Sacheri, aborda o relacionamento de um oficial de justiça, hoje aposentado, com uma promotora. Ele decide escrever um romance contando um caso em que atuou, há 25 anos, quando a esposa de um bancário foi estuprada e assassinada. O fecho deste drama não o satisfez. Hoje a promotora está casada e com filhos adultos. A lembrança pede passagem no presente espelhando não só o caso relatado como o que sentia e sente o autor. E esse vai-e-vem no tempo é abordado por Campanella de forma delicada, sem forçar a narrativa com momentos cerebrais, sem afastar o público de uma linha dramática que o prenda no cinema.
A montagem e a maquilagem funcionam de forma que o tempo seja percebido sem macular um interesse pelo que se conta e o que sentem as personagens. Não é uma tarefa fácil, como não se usa de uma técnica à maneira do que Alain Resnais fez em seus primeiros longas (“Hiroshima Meu Amor” e “O Ano Passado em Mariembad”). Os tipos envelhecem e rejuvenescem de acordo com o período focalizado e este é o liame a seguir um enredo que em tese não apresenta novidade mas não deixa de fascinar.
“O Segredo de Seus Olhos” exibe cuidados estéticos como planos-sequência (o vôo de helicóptero até chegar a um estádio), desfoques (no inicio ao se acompanhar os passos de uma figura), uso de closes auxiliados por uma iluminação econômica, enfim, o que se use de linguagem cinematográfica para seguir duas histórias bem distantes no tempo, mas colocadas de forma simultânea.
Há muito bons filmes argentinos que não chegam ao nosso mercado. Mas vejo-os em canais da TV fechada. E em DVD.Há pouco assisti nesta mídia “A Janela” onde se focalizava um homem idoso a espera do filho que deve chegar de viagem e sabe de seus limites de vida. Podia adentrar pelo melodrama vulgar que afinal é uma tradição latina (é só lembrar produções mexicanas dos anos 1950). Também mereceu Oscar “A História Oficial”,focando a ditadura que reinou no país por volta da década de 1970.
São filmes bem narrados, com enredos fortes e de critica social e política. Nada de arroubos “geniais”que levam os realizadores a pensar primeiro nos festivais internacionais. Com isso não é tão espantoso, pelo menos para mim, o sucesso mundial do novo filme de Campanella. Sabe-se que esse cineasta emprestou seu conhecimento trabalhando bem em series de TV nos EUA, realizando episódios de “House”, “Law & Order SVU” e “Law & Order”. Séries de minha preferência.
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