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terça-feira, 31 de agosto de 2010
OS MERCENÁRIOS
As filmagens de “Os Mercenários” (The Expendables/EUA, 2010) trouxeram o ator Sylvester Stallone ao Brasil. Sequencias do filme foram capturadas no nosso ambiente e, em uma entrevista no período de lançamento do filme nos EUA, esse ator disse que “o pessoal (o brasileiro, diga-se) acha graça quando se mata à vontade e ainda oferece um macaquinho de lembrança”. Mais ou menos nesse tom. A mídia e as redes de relacionamento no Brasil deram amplo destaque ao dito visto que repercutiu mal e, após respostas violentas no twitter, o Rambo das telas desculpou-se. Mas o título ficou estigmatizado em nossas bandas. Ao assistí-lo agora se sabe que foi um tiro na água. A história se passa em uma ilha sul americana que fala espanhol e nada do Rio aparece na profundidade de campo.
O filme, dirigido pelo próprio Stallone é, primeiramente, uma espécie de homenagem aos velhos brutamontes da tela. Surgem: Jet Li, Dolph Lundgreen, Mike Rourke e, em um momento, Bruce Willis e o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Este desfile de antigos tipos forjados nas contendas mais ferozes prova o quanto Stallone é estimado na classe. Aliás, ele é o arquétipo do tipo bruto, do grandalhão que pouco pensa, pouco fala, e age muito (principalmente atirando com a arma na mão). Seus Rambo e Rocky fizeram fortuna. Assim, esta figura quis fazer uma espécie de “festa de aniversário” reunindo os colegas. Quem foi convidado e faltou foi Jean Claude Van Damme dizendo não estar interessado no papel de Gunnar Jenses, que ficou com Lundgren.
O enredo é um fio de linha: mercenários bem sucedidos num país do oriente seguem para uma pequena república da America do Sul onde um ditador usa a força para fazer o que quer. Encontram um grupo resistente e não só tomam parte na briga como também ensinam os nativos a brigar. No meio desses guerrilheiros está uma garota que balança o coração do brutamonte norte-americano. Por causa dela ele retorna ao país após ter cumprido a missão que lhe diz respeito. E chega a ser torturado. Mas ninguém duvida que ele acabe vencendo embora se decepcione quando deixa a garota e segue com os amigos para comemorar mais uma vitória bélica entre jogos de dardo e bebida.
O filme é extremamente bobo. Na realidade é uma coleção de cenas de tiroteio e explosões. Claro que a maioria produzida digitalmente. Stallonne procura filmar com câmera na mão e produz muitos closes, além de preferir uma iluminação econômica (muitas cenas se passam de noite). Por isso é suficiente ver “Os Mercenários” na TV. Um big-close-up do herói tomando a tela panorâmica é até um elemento de terror. Stallone está maquilado para aparentar um tipo sujo e sofrido. A velhice não deve ter sido produto da equipe que faz o “make up”. O ator-diretor fez 64 anos no ultimo dia 6 de julho, já tem cinco projetos em andamento seja como diretor seja como ator e produtor. Em “Os Mercenários” ele, sabiamente, vê o que foi, ou seja, passa em revista o passado de sua carreira, revendo um tipo de cinema que fez sucesso nos idos de 1980. A novidade, se é que se pode dizer assim, é uma exibição mais explicita de violência. A exacerbação de cenas de luta que leva ao cansaço do espectador. Um mal que no fim das contas não é privilegio de Stallone, mas um modismo alcançado este ano através de titulo como “Salt”, “Encontro Explosivo” e, mesmo, “A Origem” (apesar de alguns destes usarem a violência como um detalhe de pesadelos).
Não creio que o gênero que hoje se chama de “ação” esteja sofrendo qualquer tipo de rearrumação e, com isso, fazendo bem ao cinema, mesmo como indústria. A repetição das tramas e da forma de trabalho torna o espetáculo cansativo. Não se guarda mais a porfia pelo “mocinho”, pela vitória objetivada de quem luta por alguma causa. E isto porque este tipo atual de “mocinho” vestiu a roupa do bandido. Uma aposta na mania do vídeo-game, na pressa com que a juventude, principalmente, gosta de ver nas telas. Por isso mesmo, uma homenagem aos 80 acaba se tornando anacrônica. Ao que consta, os tipos de antanho eram menos barulhentos e explosivos.
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